terça-feira, 8 de setembro de 2009

Quereu... quereu... se não quereu... despache eu...

Quando ouvimos falar do Oriente nos vem logo em mente conflito, guerra, fanatismo religioso, petróleo, pobreza e um mundo totalmente estranho, diverso e distante. Não imaginamos quantos de nossos hábitos cotidianos têm origem Oriental. O hábito de tomar chá, sentar em esteiras, de fazer cafuné ou de andar á rua com guarda-sóis ou sombreiro. Nossos quintais estão cheios de fruteiras de origem oriental que de tão aclimatadas parecem-nos nativas, nacionais como as mangueiras, jaqueiras, coqueiros e pés de fruta-pão. Algumas como se vê das mais palatáveis ao gosto brasileiro. É árabe a azulejaria nas casas, em especial nos banheiros. A preferência por cores vistosas nas roupas e temperos picantes na cozinha. Também são orientais o cravo, a canela, a pimenta, como também são o cuzcuz e o arroz doce. No simples ato de vender, negociar herdamos muito dos árabes: nas feiras livres a forma de dispor os produtos espalhados no chão ou até mesmo de chamar a clientela gritando, anunciando o melhor preço. Para não falar na arte de pechinchar. Outro aspecto é o de mercadores ambulantes, que batem a nossa porta e que foram tradicionalmente chamados de “mascates” palavra também árabe. Não só esta forma de se vender ás portas das casas, mas o simples fato de se anunciar em porta alheia batendo palmas. Pois bem, Japaratuba cresceu a sombra dos antigos Engenhos-Bangüês: como o Rio Vermelho, Riacho-Preto, Pontal, Timbó, Saco, São João, Cabral, dentre tantos outros. Esta forma de fabrico de açúcar também é mourisca. Foram legítimos representantes da mercancia ambulante no passado em Japaratuba: Dona Joana do Mungunzá, que morava na rua dos “Quadros” e vendia ás portas Mungunzá e arroz-doce; Dona Delia que morava na Mirinduba, vendia amendoim cozido; saía pelas ruas da cidade com um cesto na cabeça anunciando: “ olhe o amendoim... olhe o amendoim cozido no leite de vaca e escorrido na manteiga...” . Também é desta época o inolvidável “Leó da Pipoca” recentemente falecido que atravessou gerações e além de pipoca vendia quebra-queixos. Por ultimo deixei para falar de Merenciana, uma senhora negra, baixa e bunda de Tanajura, mais conhecida por “ Quereu”, pois, saía pelas ruas de Japaratuba com seu cesto na cabeça cheio de frutas, anunciando ás portas das casas: “quereu... quereu... se não quereu... despache eu...”. Saudades ... saudades dos tempos que não vivi... da Japaratuba mítica e seus heróis anônimos. E que olhemos os orientes dentro de nós, nas nossas praças, casas, cozinhas e quintais, nos gostos, sabores e cores. Salamaleque.

Tiago Carvalho, 06 de setembro de 2009.

Um comentário:

Diogo Souza disse...

Paralelo interessante, boa crônica.